Um Momento de Reflexão por STP - Um espaço ao dispor de todos os amigos de STP

quinta-feira, maio 25, 2006

Carta aberta do piloto Armindo Graça dirigida ao ministro das infra-estruturas Delfim Neves (PCD)

Exmo. Senhor Ministro das Obras Públicas, Infra-estrutura e Ambiente
C.C Presidente da República
C.C Assembleia Nacional
C.C 1ª Ministra
C.C Presidente do Gov. Regional
C.C Dir. Air S Tomé e Príncipe
C.C Embaixador de Portugal
C.C Dir. Ops
C.C RTP
C.C RDP
C.C TVS
C.C RNSTP
C.C Jornais (Semanário, Parvo, Equador....)


ASSUNTO: CARTA ABERTA


Excelência;


Quinze anos passaram depois dum episódio insólito que marcou pela negativa o destino da Transportadora Nacional e a sorte dos seus quadros. Estávamos então no governo de PCD, tendo como chefe de«o executivo o senhor engenheiro Norbeto da Costa Alegre. Mistral Voyage é seleccionada, entre as empresas estrangeiras concorrentes, como candidata ao sócio maioritário afim de gerir os destinos da AIR S. TOMÉ E PRÍNCIPE: convém salientar que a Transportadora Portuguesa TAP já havia manifestado o seu desinteresse em assumir um tal desiderato. O Primeiro-ministro é obrigado a interferir alegando a ameaça do Governo português em por em causa a cooperação com S. Tomé e Príncipe caso este entendimento venha a se concretizar. A Comissão Negocial é contrariada e forçada a entregar à TAP a responsabilidade de assegurar a gestão da nossa infeliz Transportadora Aérea Nacional em detrimento da decisão já tomada.

Excelência!


Se reportei a estes factos da história da constituição desta nossa Empresa Aérea, foi tão somente com o intuito de melhor situar a todos quantos puderem ler esta minha missiva, esperando deste modo, facilitar o entendimento dos fundamentos da minha luta. Se houver dúvidas, por favor, existem as testemunhas e todas felizmente ainda estão vivas e estou certo que poderão, se assim desejarem, narrar com maior fidelidade, esta longa e inusitada história, para a qual, desde já, convido-vos a todos a reflectir se se tratou de uma vergonha na cooperação portuguesa ou uma prova eloquente de incapacidade e de desorientação dos diferentes governos de S. Tomé e Príncipe.

Excelência!


Seja lá o que for, a verdade é que ficamos com o TWIN OTTER, o avião que TAP decidiu colocar na Campainha Santomense para um período de três (3) meses, depois do mesmo aparelho ter sido rejeitado pelos técnicos guineenses, que certamente não o consideraram digno ouviável para as pretensões do seu país. Portanto é bom esclarecer que este avião chegou ao nosso país vindo da Guiné-Bissau. Seja lá o que for, ficamos também com um Acordo de Manutenção, que pela sua natureza, criou uma dependência grosseira, que tem asfixiado os nossos mecânicos e conferido aos mesmos um certificado colectivo de incompetência, porque transforma as grandes revisões do avião, num pretexto para fazer de S. Tomé e Príncipe, um destino turístico aos mecânicos da TAP, com despesas de hotéis, praia e lazer, por conta de Air S. Tomé e Príncipe. Mas não pretendo entrar em detalhes, nos aspectos duplamente prejudiciais deste acordo, que de resto, já foi alvo de várias denúncias por parte dos quadros da nossa empresa. Eu, pessoalmente até fui conselheiro daP rimeira-ministra Maria das Neves, para a área dosTransporte e Aviação Civil..... Entretanto a TAP continua a afirmar que OFERTOU o avião à S. Tomé ePríncipe. Ficamos ainda, excelência, ao nível das operações de voo, com uma aeronave tecnicamente inviável, mas que forçosamente fora viabilizada, por via de uma política de combustível sector inventada para a Air S. Tomé e Príncipe em desrespeito pelas normas internacionalmente aceites, determinadas pela ICAO(Organização de Aviação Civil Internacional), através do ANEXO 6, cláusula 4.3.6.2.1. (Cópia anexada).

Excelência!


Porque me vejo na contingência de clarificar o método de cálculo de combustível mínimo, para facilitar o entendimento da gravidade do que se está acontecendo, esforçar-me – ei para ser menos cansativo possível, evitando entrar em detalhes técnicos na medida do possível. Tomarei como exemplo o voo conduzido através das regras de novo voo por instrumento (IFR), com destino para o príncipe, tendo como alternante o aeroporto do Libreville. De acordo com as regras, e tendo em conta o consumo do avião, o piloto precisa de cerca de 400 libras de combustível para este destino, 6 15% + o combustível para o táxi + 400 libras para o regresso à S. Tomé + 15% + cerca de 650 libras para o caso de não poder aterrar em S. Tomé, ou seja, para alcançar o alternante, Libreville em segurança, + o combustível para aproximação em Librevelle + o “overchoot”, ou seja a eventualidade de falha a aterragem +45 minutos de combustível de reserva, de onde extrairíamos a seguinte soma:
400+60+30+400+60+650+70+15+336=2021libras.
De outro modo, podemos tomar como referência a política de combustível sector, normal das LAR (LinhasAéreas Regionais de Portugal), que nos foi facultada através do manual de Operações de Voo (MOV) desta Companinha, que reduz os tais 15% da ICAO para 10% na fórmula de cálculo de combustível. Neste caso teríamosa seguinte soma:
400+40+30+400+40+650+70+15+336=1981libras.
Entretanto, a cláusula 4.3.6.2.1, do ANEXO 6 da ICAO ainda admite a possibilidade da decisão de alternar para Librevelle ocorrer ao meio do caminho entre as duas ilhas. Este ponto se situa a cerca de 154 milhas de Libreville, e até lá teríamos consumido cerca de 200 libras de combustível, estando a cerca de 40 milhas de S. Tomé. Neste caso, mesmo pondo de lado os 15% da ICAO, e servindo-nos dos 10% das LAR, teríamos o seguinte calculo:
400+40+30+200+550+70+15+336=1661libras.
Repara que nenhum destes cálculos apresentado não nos dão o resultado de 1600 libras de combustível, valor deixado pela TAP! Todavia sabemos que tomando a decisão de alternar bem antes do ponto referido no parágrafo anterior ser-nos-ia possível a prática desta política de combustível se não fossem as condicionantes da nossa realidade socioeconómica e climática que seria um crime não considerar. É que esta política de combustível não deve ser aplicada num país como o nosso pois ela não admite a eventualidade de falhas ou interrupções de comunicação, nem na Torre nem no avião, o que o tornadeveras perigoso para a segurança operacional, num país que se sabe de microclima, situado numa zona de confluência de massas de ar, que determinam muitasvezes. Evoluções bastante rápidas do tempo.... (deixo o resto por conta dos meteorologistas...). Nós os funcionários das operações da Air S. Tomé e Príncipe, sempre soubemos que o legado da política da TAP para a viabilização do avião TWIN OTTER, não era segura e condenava-nos a voar somente com bom tempo, o que seria impensável na nossa região do Golfo da Guiné. Tivemos experiências amargas de termos chegados vivos, num dia de mau tempo. À tangência, com os depósitos quase vazios. Deste então decidimos carregar à nossa discrição + 400 libras de combustível para a nossa própria segurança. Se o sacrifício era para três (3)meses até que valia apenas aceitá-lo. Só que de três(3) meses já se passaram quinze (15) ano. Aceitando estes e outros sacrifícios como a necessidade de compatibilização de salários em função das categorias, recusa dos diferentes directores em aprovar o Regulamento interno que elaboramos ao pedido de um deles, a formação etc., fomos aguentando. Esperando por outra aeronave e por dias melhores fomos até ganhando o reconhecimento até preferência (perguntem algumas embaixadas e serviços que operam o país). Mas, o que ninguém sabe, é que com + 400 libras de combustível, a empresa teria que diminuir o número de passageiros e ficar penalizada, ao contrário da realidade que enfrentamos no nosso dia a dia laboral. Sendo assim, teremos que continuar a contar com a colaboração da providência divina de nos proteger o funcionamento dos dois (2) motores. Pois que em caso de falha de um deles, com 2000 libras de combustível e o avião carregado, vamos todos fazer companhia aos barcos BABEMZELÊ, BRIZA DO MAR, TROPICAL E ELIZABETE; e muitas vidas perdidas que jazem, esquecidos no fundo do mar, fruto de teimosia e de andar.

Excelência!


Se levanto estas questões hoje é porque saturei. Quinze anos de espera são demais. É Preciso dizer aoPaís e ao mundo que este avião não é viável. Até mesmo o cidadão comum sabe que este avião não serve. Será que os portugueses acham que é isto que os santomenses merecem? O que é que a TAP quer afinal? Não dão a formação, não mudam o avião, não dançam nem tocam, só empatam! Se os outros colegas não reclamam, não significa que estão satisfeitos. Se calam por medo ou alguma conveniência, pergunte para eles! Só sei que existem muitas pressões, que vão desde os passageiros,p assando pelo QUIBUTEIROS da própria Air S. Tomé, e muitas outras que nem vou citar, que continuam a“VIABILIZAR” um avião sem casa de banho, sem condições, vistas ao olho nu. Por tudo isto, gostaria de lançar um veemente apelo através de si, senhor Ministros, ao Presidente da República, à Assembleia Nacional, ao Primeiro Ministro, ao Presidente do Governo Regional doPríncipe e a todos os santomenses de boa vontade, de tudo fazer para nos ajudar a travar esta farsa. Quanto a nós somos obrigados a continuar a voar! Falei da ausência de formação, de salário, escrevi, acusei a empresa de praticar a amputação profissional, aconselhei o director a diminuir a frequência dos voos à Libreville, especialmente os voos de domingo que acarretam custos adicionais por causa das taxas de iluminação nos dois aeroportos, diminui a frequência da minha escala de voo, sem prejuízos, senão para mim mesmo, como forma de protesto, sabem qual foi a resposta da empresa? Foram 27 dias de corte do salário, sem nem mais nem menos. Por isso vamos continuar a voar. Se morrermos um dia, pelo menos a nação e o mundo conheceram o meu testemunho. Pergunto: Vergonha na cooperação portuguesa, ou prova eloquente da incapacidade e de desorientação dos diferentes governos de S. Tomé e Príncipe? Ao senhor director, quero que saiba, que não passa de um patinho no meio de pintainhos. Está perdoado. A minha luta não é nem pode ser contra ele. O meu inconformismo assumido leva-me a obrigação moral. Enquanto santomense, profissional e político, a lutar por uma empresa capaz de contribuir para o bem-estar colectivo, num S. Tomé e Príncipe que queremos melhorar para todos. Todavia, como homem de Estado,t endo em conta as funções que já ocupou, conhecedor, creio, de normas legais, saberá, espero, respeitar o meu salário arbitrariamente violado. Por hoje fico por aqui. Sem outro assunto receba Excelência os protestos da minha mais alta consideração e estima


S. Tomé aos 11 dias de maio de 2006.
N.B: 1 libras de combustível é igual a 0,46 Kg = a 0,57 litro,
ARMINDO GRAÇA
Piloto – Aviador (de Profissão)
Presidente do PRD

Fonte:http://www.cstome.net/vitrina/Carta%20Aberta.htm

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2 Comments:

  • Então Sr Ministro? Já está coberto de vergonha? Pronto para procurar outro emprego? Espero que sim. Com um aviso destes, feito por alguém que conhecia os problemas do aparelho como é que foi possível continuar de braços cruzados? Como sempre a culpa vai morrer solteira!
    Alváro Teixeira

    By Anonymous Anónimo, at 26 maio, 2006 01:18  

  • Fradique de Menezes tenha a coragem e já agora um pouquinho de vergonha para mandar o seu primeir-ministro demitir de imediato o ministro das Obras Públicas, infra-estruturas e ambiente que também é seu. É preciso mais mortes e mais barbaridades? Esta prova da teimosia, incompetência, autismo e daltónica não chega? Somos Sãotomenses!

    By Blogger Mário Gomes Bandeira, at 26 maio, 2006 01:27  

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