Um Momento de Reflexão por STP - Um espaço ao dispor de todos os amigos de STP

domingo, março 18, 2007

ADEUS MANUELA MARGARIDO! ADEUS JAIME DONDOIA!

Não Dra. Manuela, não Sr. Jaime; não estou a utilizar as páginas desta humilde revista “ O Parvo” para registar a notícia do vosso desaparecimento físico e irrecuperável. Alias, vós não tendes e nunca tivestes a carência disso, como alguns que vós conhecestes e eu também conheço neste mundo que deixastes. Estou unicamente a vos agradecer pelo vosso ensinamento e desejar-vos muito boa estadia por este novo mundo que inevitavelmente a morte nos conduzirá a todos. Vós fostes meus amigos que perdi, apesar de gerações distintas a que pertencemos. Vocês foram amigos em que nos momentos em que estiveram em causa valores que nos fazem ser sãotomenses e democracia sempre me disseram: Bandeira vamos e vai em frente! Não posso de forma alguma esquecer horas intensas de discussões em Lisboa antes e durante a fase da chamada queda de muro de Berlim. As nossas discussões centraram sempre sobre a perigosidade da democracia em STP devido como diz um nosso compatriota, a maldição dos dirigentes ou supostos dirigentes que daí emergiram. Houve alguns que utilizaram o vosso saber, vossa memória, reentraram em STP com folclore religioso ensaiado com o único fim como que de um anjo se tratasse – o poder. Manuela Margarido, Jaime Dondoia, como vocês foram vitimas desta evidência?! Hoje, a minha responsabilidade moral é maior ainda, porque gostaria de poder representar o vosso pensamento sobre STP para aqueles que lêem (ouvem) este artigo. E, para aqueles nossos compatriotas que estão dominados por um poder maléfico instalado e ocupados com os problemas de habitação condigna, saúde, educação e alimentação.

Sei Manuela, sei Jaime, que, aqui não é o lugar de abrir uma arena à discussão quiçá, para alguns que não vocês, desrespeitosa. Estou apenas tentar descer de pensamentos dos que comigo e convosco partilharmos o vosso ensinamento, sobre as vossas faces impassíveis imaginando-vos deitado diante de nós em repouso absoluto. Sou seguramente o testemunho de afeição e sentimentos de pesar nosso, que resta a vossa volta como um embalsamamento do coração! Espero e desejo que as vossas almas eternas sobrevivem a este despojo mortal. Porque sei que há laços indestrutíveis que ligam o nosso mundo visível ao mundo invisível. Não gostaria ver se desvanecerem as vossas imagens corpóreas e encerrá-las nos seus sepulcros, sem poder honrar os vossos ensinamentos e as vossas memórias, sem pagar um tributo de reconhecimento à vossa encarnação terrestre, tão utilmente e tão dignamente cumprida. É verdade Jaime, é verdade Manuela, como previram, a nossa constituição limita-se a imitar as outras e nada mais. O poder instalado não favorece a maioria apesar de se chamar Estado de Direito democrático. Foste tu amigo Jaime a primeira pessoa a falar do meu avô.

Desculpa-me Jaime, desculpa-me Manuela, sei que este não é o espaço ou o anfiteatro de se falar disso – é só mais uma lembrança que não fui capaz de conter neste momento! Á Esposa, filhos, netos e restantes membros da família de Jaime Dondoia, permito-me não poder ignorar a importância do desaparecimento físico do vosso marido, pai, avô, sogro, tio, primos, …, porque seria perder um aspecto indispensável do meu passado, ou seja, uma revelação do passado. Ou ainda, ignorar uma expressão essencial no presente e no futuro, o que seria para mim uma ameaça aos meus valores. Sei, a dor provocada pela morte do vosso marido, pai, avô, tio, primo,…, é intensa devido a significação da relação que ele tinha para convosco. Partilho, comparticipo convosco a experiência das horas intensas da dor, a consciência desta realeza, mas não podemos evitar ou negar esta morte porque é pior. Este desequilíbrio como seres viventes é esperado, mas inadmissível é fortemente vivido e vivenciado por vós. Somos Santomenses

Adeus Jaime, Adeus Manuela e até Sempre!
Lisboa, 2007-03-14
Mário Gomes Bandeira


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2 Comments:

  • Ao pesquisar a net na busca de páginas que me permitam estar mínimamente informada sobre a terra, encontrei este blog. Pus-me a ler os vários artigos aqui publicados e dei de caras com esta homenagem ao Jaime Dondóia, meu pai, e a Manuela Margarido. Um misto de lisonja e vontade de partilhar tomou conta de mim. Quero agradecer ao Mario Bandeira pela admiração manifestada a sua pessoa. Um cidadão comum com muitos e irrefutáveis defeitos, que alguns apontam e bem.Um cidadão comum que soube muito bem remediar os seus defeitos, na perspectiva de "bom cidadão comum" que ele foi e assim merece ser lembrado. Para mim ele foi um grande homem . Obrigado Mario Bandeira

    By Blogger Unknown, at 09 setembro, 2007 08:48  

  • Permita-me apresentar-me como Leonardo Villela de Carvalho, brasileiro ( nascido em Brasilia ), 44 anos e atualmente vivendo em Shanghai-China por motivos profissionais.
    Hoje estava a lembrar-me da minha saudosa mae, Maria Luiza Carvalho,quem no final dos anos 70 e comeco dos anos 80 viveu em Paris, onde estudou Filosofia na Sorbonne. Lembrei-me dos dias que eu la' passava em sua companhia (pois eu estava estudando na Holanda e ia nos finais de semana para Paris visita'-la )e, a imagem de uma amiga adoravel de minha mae em Paris me veio a' mente. Uma grande amiga, a quem minha mae considerava como uma "irma". Trata-se da Sra. Manuela Margarido. A minha mae e a Sra. Manuela Margarido eram amigas inseparaveis em Paris e compartilhavam uma amizade de muito respeito e admiracao. Lembro-me das minhas conversas com a Sra. Manuela Margarido. Eu era um adolescente e me marcou muito a sua elevada nobreza de pensamento, de onde emanava um forte sentimento de altruismo, de preocupacao com o mundo e a humanidade, onde o seu pais amado ( Sao Tome e Principe ) era a sua maior referencia nas suas reflexoes e lutas. Certamente, o aspecto mais forte que unia as duas grandes amigas, era esse sentimento altruista, onde os problemas da humanidade, como um todo, estavam acima dos problemas de suas proprias vidas pessoais. No entanto, o mais interessante, era que tinham enfases diferentes quanto aos caminhos de busca das solucoes para os grandes problemas da humanidade. A Sra. Manuela Margarido, tinha uma posicao mais dialetica. A percepcao de minha mae partia de uma abordagem mais espiritual.( Enfim, essas sao as minhas pequenas percepcoes pessoais e nao tenho a pretensao de abarcar o nobre e profundo universo de pensamento dessas duas intelectuais. Mesmo porque nao tenho competencia para tal ). Acho que essas diferencas basicas e o constante compartilhar dessas percepcoes foi o elo de grande uniao dessa grande amizade.
    Enfim, hoje resolvi' fazer uma pesquisa na internet para saber o destino da Sra. Manuela Margarido e, para minha surpresa, agora sei que ela tambem faleceu.
    Fiquei muito interessado em ter acesso a sua interessante obra de poemas. Alias, li' um dos seus poemas na internet e a energia daquelas letras foram de uma significacao muito grande para mim.
    Assim como os livros que a minha mae escreveu, como "Filosofia, Entendimento e Vivencia" , que fazem parte da minha colecao de livros de cabeceira, quero incluir os livros da Sra. Manuela Margarido tambem. No mais, tenho todo o interesse em promove-los no meu pais, do mesmo modo que promovo os livros de minha mae.
    Portanto, ficarei grato se os leitores desse blog puderem me ajudar informando as melhores fontes para a aquisicao dos seus livros.
    Fico a imaginar as duas amigas conversando no ceu...
    Que Deus as tenha!
    Leonardo Villela de Carvalho
    E.mail: leobvc@ig.com.br

    By Anonymous Anónimo, at 07 dezembro, 2008 07:29  

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