ADEUS MANUELA MARGARIDO! ADEUS JAIME DONDOIA!
Não Dra. Manuela, não Sr. Jaime; não estou a utilizar as páginas desta humilde revista “ O Parvo” para registar a notícia do vosso desaparecimento físico e irrecuperável. Alias, vós não tendes e nunca tivestes a carência disso, como alguns que vós conhecestes e eu também conheço neste mundo que deixastes. Estou unicamente a vos agradecer pelo vosso ensinamento e desejar-vos muito boa estadia por este novo mundo que inevitavelmente a morte nos conduzirá a todos. Vós fostes meus amigos que perdi, apesar de gerações distintas a que pertencemos. Vocês foram amigos em que nos momentos em que estiveram em causa valores que nos fazem ser sãotomenses e democracia sempre me disseram: Bandeira vamos e vai em frente! Não posso de forma alguma esquecer horas intensas de discussões em Lisboa antes e durante a fase da chamada queda de muro de Berlim. As nossas discussões centraram sempre sobre a perigosidade da democracia em STP devido como diz um nosso compatriota, a maldição dos dirigentes ou supostos dirigentes que daí emergiram. Houve alguns que utilizaram o vosso saber, vossa memória, reentraram em STP com folclore religioso ensaiado com o único fim como que de um anjo se tratasse – o poder. Manuela Margarido, Jaime Dondoia, como vocês foram vitimas desta evidência?! Hoje, a minha responsabilidade moral é maior ainda, porque gostaria de poder representar o vosso pensamento sobre STP para aqueles que lêem (ouvem) este artigo. E, para aqueles nossos compatriotas que estão dominados por um poder maléfico instalado e ocupados com os problemas de habitação condigna, saúde, educação e alimentação.
Sei Manuela, sei Jaime, que, aqui não é o lugar de abrir uma arena à discussão quiçá, para alguns que não vocês, desrespeitosa. Estou apenas tentar descer de pensamentos dos que comigo e convosco partilharmos o vosso ensinamento, sobre as vossas faces impassíveis imaginando-vos deitado diante de nós em repouso absoluto. Sou seguramente o testemunho de afeição e sentimentos de pesar nosso, que resta a vossa volta como um embalsamamento do coração! Espero e desejo que as vossas almas eternas sobrevivem a este despojo mortal. Porque sei que há laços indestrutíveis que ligam o nosso mundo visível ao mundo invisível. Não gostaria ver se desvanecerem as vossas imagens corpóreas e encerrá-las nos seus sepulcros, sem poder honrar os vossos ensinamentos e as vossas memórias, sem pagar um tributo de reconhecimento à vossa encarnação terrestre, tão utilmente e tão dignamente cumprida. É verdade Jaime, é verdade Manuela, como previram, a nossa constituição limita-se a imitar as outras e nada mais. O poder instalado não favorece a maioria apesar de se chamar Estado de Direito democrático. Foste tu amigo Jaime a primeira pessoa a falar do meu avô.
Desculpa-me Jaime, desculpa-me Manuela, sei que este não é o espaço ou o anfiteatro de se falar disso – é só mais uma lembrança que não fui capaz de conter neste momento! Á Esposa, filhos, netos e restantes membros da família de Jaime Dondoia, permito-me não poder ignorar a importância do desaparecimento físico do vosso marido, pai, avô, sogro, tio, primos, …, porque seria perder um aspecto indispensável do meu passado, ou seja, uma revelação do passado. Ou ainda, ignorar uma expressão essencial no presente e no futuro, o que seria para mim uma ameaça aos meus valores. Sei, a dor provocada pela morte do vosso marido, pai, avô, tio, primo,…, é intensa devido a significação da relação que ele tinha para convosco. Partilho, comparticipo convosco a experiência das horas intensas da dor, a consciência desta realeza, mas não podemos evitar ou negar esta morte porque é pior. Este desequilíbrio como seres viventes é esperado, mas inadmissível é fortemente vivido e vivenciado por vós. Somos Santomenses
Adeus Jaime, Adeus Manuela e até Sempre!
Lisboa, 2007-03-14
Mário Gomes Bandeira